sexta-feira, 11 de junho de 2010

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Fecha o circo, recolhe a lona que o velho quer vazar. Chega de palhaçada nessa cidade, chega de risadas histéricas por aqui, nosso destino é outro, a verdade já se foi e ficou a mentira da alegria. O Circo não é lugar de gente feliz, e sim de gente desesperada. O público rí porque não aprendeu a chorar, o palhaço faz palhaçadas porque não tem o que comer. Pular dentro de um bande de água de uma altura enorme dói, e não é pouco. Se pudesse trabalhar com carteira assinada, em um escritório hermético, ar condicionado, mesas brancas, papéis de reflorestamento, não seria tão ruim. Fecha o circo que a palhaçada acabou, ninguém quer mais saber dessa merda de mulher elástico, da mulher engolidora de faca, da puta que as pariu. A criançada de hoje vê a mulher elastico com as duas pernas atrás da cabeça e pensam: "Será que ela faz isso na cama?", e olha que estou falando de crianças de uns 9 anos. O muleque vê a engolidora de facas botando uma espada guéla adentro e pensa: "Será que...", bem, deixa pra lá. O pior é que o cara que engole fogo vai pelo mesmo raciocínio. Tudo no circo, que não remete a sangue, remete a sexo. Uma garota de no máximo uns 15 anos salta no ar para ter as pernas agarradas por um outro trapezista e emocionar a todos, mas lá embaixo um gordo babão só consegue pensar: "Aposto que essa putinha dá até pro anão do circo!" e quando o palhaço faz uma piada com a assistente de palco do mágico o mesmo gordo bobo pensa: "Esse palhaço velho come essa gostosa? Só no Viagra, tenho certeza!" A alegria do circo hoje se tornou viver na lama, viver sorrindo por fora e chorando por dentro, viver na merda. Fecha o circo que o velho está cansado, não há o que fazer em um lugar com arquibancadas de madeira carcomidas, andaimes enferrujados, lonas remendadas mais de 20 vezes e um trapezista que já decorou os movimentos com tanta precisão que o público nem se emociona pois sabe que não haverá queda. E o público quer quedas. A graça do circo está na desgraçada de pensar: "Esse cara não tem nem o que comer, como ele aguenta segurar essas quatro mulheres nos ombros?". Ou então, o ápice do show, um dos números mais arriscados, mais temidos pelos artistas, mais amado pela sádica platéia: o atirador de facas. Ele começa sua exibição mostrando 15 facas enormes, uma gostosa presa a um alvo em branco e vermelho, que deve ser sua filha, ou talvez filha de algum outro funcionário, e começa a tirar os objetos na táboa. O público clama por sangue, mas fica na sede. O globo da morte, definitivamente é o show da noite, mas a perícia é tanta que o pai vê o filho tenso pelo que vai acontecer e acaba com a graça: "Fica tranquilo filhão, eles nunca batem um no outro...". Fecha o circo, não está mais tão engraçado. Eu não gosto de circo, não gosto de circo com bixo, nem com bixo homem, não gosto de circo de jeito nenhum. Fecha o circo que o velho foi embora... agora está na fila do INSS tentando alguns trocados!

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