sexta-feira, 24 de julho de 2009

a verdade sobre a realeza alienada


"Ela não tinha dó. Dentro de sua angelical aparência infantil estava contido um mal sem tamanho, de tal intensidade que chegava a mudar a cor dos olhos da bela criança. Ao contrário de todos no reino, até mesmo no castelo, ela não tinha cabelos loiros, e olhos azuis da cor do céu. Sua pele era branca, quase pálida, seus cabelos pretos como a noite, rebeldes e lisos, com pontas para todos os lados, quase como se tivesse vida própria, e olhos de bixo, pretos por completo, sem cor, sem piedade nem expressão. Era uma criança ruim!



Vestia-se de preto todos os dias, suas criadas tinham as bocas costuradas e queimadas a ferro quente, como um selo, para que nunca pudessem contar nada do que viam e sabiam, nem dar opiniões, nem reclamar e muito menos sair em público, tamanha seria a repulsa que os outros sentiriam daquelas feridas horríveis. Seu mordomo, assim como sua cozinheira, eram cegos. Foram cegados com pontas de agulha, para que nunca fossem capazes de tentar envenenar a garota ou armar qualquer tipo de rebelião.Semanalmente ela mudava a ordem os móveis de todos os cômodos do castelo e nunca dormia duas noites seguidas no mesmo quarto.



Era uma criança esperta, não gostava de dar chances para o azar, não tinha medo de nada e vivia desafiando a morte de várias maneiras. Quando ainda bebê, teve sua alma vendida ao Diabo e nunca se sentiu triste ou brava por isso. Viviam em perfeita harmonia, precisavam e agradavam um ao outro, eram como duas almas em um corpo só. De dentro daquele corpo não saia muita coisa boa, não para gente humana como ela. Em compensação, sempre amou os animais, nunca matou uma mosca sequer e deixava todas as janelas do castelo abertas, até mesmo durante a noite ou em dias de chuva, para que os pássaros pudessem se refugiar.Calçava seus sapatinhos, vestia-se com sua roupa preta, seu manto real feito de pele humana tingida de preto e passava a caminhar pelos corredores do castelo. Os criados que não tinham olhos, mas tinham boca, curvavam-se na direção dos passos, abaixavam a cabeça e diziam em tom cortês:



- Muito bom dia, Menina Rainha! - diziam eles, com sorrisos nos lábios.

- Muito bom dia! - respondia ela, que mesmo sendo má, nunca deixava de ser educada.



Os que não tinham bocas, como as camareiras, arrumadeiras, escravas de dentro e ajudantes, simplesmente fechavam os olhos, curvavam o corpo para frente e estendiam as saias, cruzando o pé esquerdo atrás do direito. A jovem criança sorria e acenava com a cabeça, como quem cumprimenta cada um à maneira que a cumprimentavam. Quando sentava-se à mesa para as refeições, fazia questão de que todos os seus empregados ficassem na outra ponta da mesa, de pé, todos de costas para ela. Assim, não corria o risco de ser atacada por trás, ou dar chance para que eles se organizassem.Mesmo com todo esse esquema rígido, os empregados trabalhavam felizes e havia uma centena de camponeses que desejavam trabalhar no castelo para a Menina Rainha. As criadas, que tinham as bocas costuradas, se alimentavam apenas de líquidos, por um canudo que adentrava um pequeno buraco que era deixado de fora dos pontos. Por conta disso, morriam logo e eram constantemente substituídas. Os homens, que tinham os olhos furados, também se amontoavam para trabalhar no castelo e havia aqueles que furavam os olhos sozinhos, em busca de terem uma maior chance de conseguirem uma vaga. Não era raro o caso de homens que caiam das escadas, caiam no fosso do castelo ou eram atacados por animais selvagens e morriam.Os humanos eram objetos ali, ferramentas que são trocadas quando dão defeito. O motivo para haver tanta gente interessada neste sofrimento era muito simples: vida boa depois da morte. Construído em pedras pretas e cravado no monte mais alto do reino, o castelo era uma espécie de portal para o inferno, cuja entrada ficava sobre a torre mais alta da construção. No céu, ao invés de nuvens e céu azul, existia uma espécie de espiral eterna, de fogo e carvão, que girava constantemente como um redemoinho de cabeça para baixo, e dali vinha toda a maldade da garota. Na "Torre Extrema", como era chamado o último ponto do castelo, não havia telhado e todo cadáver que morria a serviço da Menina Rainha era levado para lá à noite. No dia seguinte o corpo não estaria mais.A lógica é que depois dali ele seria levado para o inferno a alma seria separada da carne, que serviria de alimento para o Diabo, em troca disso os espíritos gozariam de uma vida de fartura, mulheres para os homens, criados e luxo para as mulheres, comida e bebida a vontade e em abundância, todo o conforto que se pudesse imaginar e, tudo isso, para toda a eternidade. Diante da promessa, a dor de conseguir entrar no castelo era um preço baixo a se pagar.



Neste ano a Menina Rainha fará 15 anos, e deverá se casar. Seu marido deverá se submeter a qualquer tipo de exigência, e sabe que poderá ser assassinado a qualquer momento. O homem não se tornará rei, seu posto será meramente ilustrativo, e terá apenas a função de procriação. Ele não levará uma vida diferente dos outros criados no castelo, a não ser por algumas diferenças, como roupas reais, terá boca e olhos saudáveis, vai fazer as refeições junto com a rainha, terá direito a alguma parte do reino, caso deseje se mudar do castelo e o principal: será o portador da Medalha de prata da suprema crueldade.Essa medalha é o que garante a ligação do Diabo com a jovem garota, e depois do casamento ela vai engravidar, tem um filho e morrer. Esse é o ciclo de vida de uma jovem rainha, e o Rei será obrigado a cuidar da criança, que o Diabo se encarregará de fazer nascer menina. Quando fizer 5 anos de idade, a jovem princesa reivindicará o trono, e se o rei se negar, será abduzido, ainda vivo, pelas forças do mal. Caso entregue a medalha de bom grado para sua filha, será poupado, porém deverá ir embora do reino e, obviamente, será cegado.A posse da medalha, assim como o privilégio supremo de poder, por uma noite, possuir a carne virgem da Menina Rainha, será disputada em um torneio. Qualquer homem do reino poderá participar, o vencedor será aquele que conseguir sobreviver ao desafio. Em uma arena, montada no centro do castelo, 15 homens vão se degladiar até sobrar um. Depois disso, outros 15 serão convocados até sobrar um vencedor. No final de todas as quinzenas de guerreiros, os vencedores deverão escalar uma montanha e o primeiro que chegar ao topo será o novo Rei. Este, antes de passar sua medalha para a herdeira, poderá desfrutar de todo o luxo e riqueza que puder imaginar, desde que cuide da criança.Pois bem... eu estou no primeiro grupo de 15, tenho plena convicção de que vou ser sobrevivente e, quem sabe, poderei portar a medalha em meu pescoço e, quando for a hora de me desvencilhar do colar, levarei a jovem rainha comigo, para mudar toda a história dessa merda de lugar. E aqui vai um aviso:



"Menina Rainha. Teu reino, reinado e coração serão meus! Ao contrário do que você pensa, ou já viu acontecer, eu serei o primeiro a te olhar nos olhos e falar pela minha própria boca:- Muito bom dia, Menina Rainha!Manda teu escrivão anotar o que eu digo... manda mesmo!" "
(Não é de minha autoria)














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